Em entrevista à Folha de SP, José Efromovich fala sobre a expansão da aérea

Prestes a anunciar a união de sua companhia aérea, Avianca Brasil, com a Avianca Holdings, o empresário José Efromovich lamenta a instabilidade da política no país em um momento em que a empresa precisa se expandir.
Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, ele diz que as companhias aéreas brasileiras perderam 8 milhões de passageiros em 2016 e reduziram as frotas, mas a Avianca Brasil, que é a menor entre as líderes e ainda em fase de crescimento, adiciona destinos e aviões a seu portfólio.
Como a maioria dos empresários, Efromovich evitou especular sobre o destino de Michel Temer e disse que é cedo para olhar 2018, mas, entre os cotados, avalia João Doria, o prefeito de São Paulo, como "extremamente competente". Sobre o crescimento do deputado Jair Bolsonaro nas pesquisas, o empresário diz que "só vai gastar tempo para ver quando a coisa for real".
Folha - Qual deveria ser o destino do presidente Temer?
José Efromovich - Não me envolvo com política. Só o que eu espero é que se estabilize a política para se estabilizar a economia, de qualquer maneira, independentemente de haver culpado ou não.
Há vozes no empresariado estimulando a entrada de empresários na política. Política é só para políticos ou há espaço para empresários?
Tem espaço, desde que tenha afinidade e dedicação, desde que a política não seja quebra-galho. Vamos valorar a experiência de gestão, que é um dos quesitos para ser bom político. Mas tem que ter habilidade, jogo de cintura, saber negociar, ceder e colocar planos em marcha.
Isso faz lembrar o bordão de João Doria, cotado para 2018. Como o avalia na prefeitura?
Ele tomou a decisão e se afastou dos negócios.
E Bolsonaro? Está crescendo nas pesquisas para 2018.
Faço questão de não acompanhar. Quando está mais próximo da eleição, aí vejo quem são os reais candidatos para saber como vou votar. Mas não olho como empresário pois não dependo de político para tocar meu negócio.
Está difícil ser empresário no Brasil da Lava Jato? Há empresários que nos bastidores se queixam de uma caça às bruxas, com medo de ser citado. Delações como as da Odebrecht e da JBS desencadearam uma série de investigações no setor privado. Virou uma classe sob suspeita?
Estou muito tranquilo como empresário. Minha frustração é mais voltada à política de impostos. É muito confuso. Temos que cuidar de 60 tipos de impostos. Em países desenvolvidos, não tem isso, as coisas fluem. No Brasil, tem que ter gente estudando possibilidade de engenharia de impostos para ver como se aplica. E tem a Justiça Trabalhista.
Por essa política arcaica, estamos perdendo investimento. Não estou falando que o funcionário não tenha direito de reivindicar. Tem. Mas muitas ações não têm fundamento. A pessoa entra com a ação porque não tem nada a perder.
A enxurrada de delações deixou os empresários com a sensação de que podem precisar se defender a qualquer instante? Seu irmão German, por exemplo, foi citado por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, no ano passado. [Machado e seu filho disseram que German Efromovich, que tem negócios com estaleiros, depositou R$ 28 milhões em conta que tinham na Suíça].
Delação não é prova de nada. Eu não me envolvo na área e procuro evitar. Eu gostaria de ver decisões com provas. Quem se instala no Brasil para empreender tem que fazer de acordo com as regras.
A Lava Jato precisa parar? Traz muita instabilidade?
Tem que ir até achar todos os culpados. Se o Executivo estivesse independente e não tivesse essa ligação forte, estaria fazendo a política que tem de ser feita, gerindo o país.
Mas ele não parece estar independente, como se viu na gravação de Joesley com Temer.
É que todo dia aparece uma nova história. E isso incomoda. Eu queria que isso se estabilizasse. Não estou falando em acabar com a Lava Jato. Não pode simplesmente cortar. É óbvio que uma hora tem que acabar. O país tem que achar os seus caminhos, as instituições têm que estar aí. E quem não fez a coisa adequada tem que estar fora.
Como estão os projetos da Avianca Brasil com a United?
Continuamos em conversas com para fazer um acordo mais amplo. É o que se chama de joint venture, mas nessa indústria esse nome significa outra coisa. É um acordo comercial em que, numa rota, decidimos usar o nosso avião com a nossa tripulação, mas o parceiro vende nos EUA e eu vendo no Brasil. O lucro a gente divide. São rotas específicas em que fazemos sociedade.
Quantas pretendem ter?
Podem ser três, oito, estamos discutindo todas as rotas que fizerem sentido para ligar Brasil e EUA.
E a junção de Avianca Brasil com Avianca Holdings, quando vai ser? O que falta?
Pretendemos que seja neste ano. Falta os grupos definirem como vai funcionar e depois a aprovação dos conselhos de administração. E, depois, a aprovação dos governos.