Audiência publica na CTD discute ações do Governo para capacitação profissional para o evento esportivo. Trade nacional exige novas práticas e critica Pronatec

Sérgio Nery, Brasília

A qualificação profissional é um dos temas que mais preocupam a cadeia produtiva do turismo em relação à Copa do Mundo de 2014. Para debater o assunto, a CTD (Comissão de Turismo e Desporto) da Câmara dos Deputados convidou, na última terça-feira, autoridades do setor para uma audiência publica.

O encontro jogou luz sobre os gargalos e desafios que o Governo enfrenta para capacitar a mão de obra há menos de dois anos para o inicio do evento esportivo. O presidente da Contratuh (Confederação Nacional de Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade), Moacyr Auersvald demonstra preocupação com o curto período disponível para realizar importante ação para o sucesso da Copa no Brasil. “Vivemos um apagão na qualificação profissional. As arenas, os hotéis e os aeroportos ficarão prontos, mas caberá aos trabalhadores a recepção dos turistas. Lamentavelmente, não temos conseguido visualizar ações nesse segmento”, criticou.

O Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) foi criticado por representantes do trade nacional. Segundo João Luiz Moreira, presidente da CBC&VB (Confederação Brasileira de Convention & Visitors Bureau), o programa tem seu mérito, mas não atende o segmento. “O Pronatec é contraditório já que, por exemplo, atende apenas com três cursos os Destinos da Copa no âmbito do turismo receptivo, segmento que atenderá diretamente os visitantes”, afirma.

Moreira lembrou também a interrupção abrupta do Programa Bem Receber Copa, na época em que o MTur enfrentou uma grave crise. “Desde agosto ano passado, programa foi acabado de forma unilateral e os convênios não foram cumpridos”, salientou.

O deputado Jonas Donizette (PDT-SP) cobrou do ministério uma solução para essa questão. “Pessoas acreditaram nesse programa do Governo e estão sofrendo consequências. Entidades fizeram investimentos e ficaram desassistidas. O MTur tem que dar uma solução para isso”, ponderou.

A Assessora Especial do Ministério do Turismo, Suzana Dieckmann explicou que os convênios foram suspensos por meio de decreto presidencial e que estes aguardam avaliação para uma possível solução.

Sobre o Pronatec, a assessora afirmou que o programa não é a única ação da pasta ara qualificação profissional. “O Pronatec veio para atender uma lacuna do MTur nas 12 sedes da Copa.

O programa não é tão inflexível como estão passando e aceita ajustes. Além do Pronatec,  a pasta tem recursos para convênios com as cidades-sede para treinamento de policiais, taxistas, motoristas de veículos de turismo, recepcionistas de aeroportos”, explica.

O presidente da Abrarj (Associação Brasileira de Revistas e Jornais), Cláudio Magnavita reivindicou que o MTur e o MEC (Ministério da Educação) ouçam os representantes da cadeia do turismo antes de tomar decisões que interfiram na qualificação profissional do setor.

“A construção desse novo cenário do MTur juntamente com o MEC aconteceu sem a participação do setor de turismo e sem que o CNT (Conselho Nacional de Turismo) fosse ouvido. É preciso olhar para o relógio e existe muita lentidão nesse processo. Qualificação profissional realizada de forma apressada tende a ser um desperdício de dinheiro publico”, alertou.

O professor Mário Beni, diretor da Rede Brasil de Qualificação da CNTur (Confederação Nacional de Turismo), ressalta a necessidade de novas práticas e metodologias para que os resultados sejam alcançados.

“Por mais de 60 anos, o Senac foi responsável pela formação de mão de obra. Temos que plantar um modelo inovador de qualificação que reconheça a competência adquirida pelos profissionais no próprio local de trabalho ou à distancia. Não há a possibilidade do trabalhador deslocar-se, após oito horas de trabalho, para fazer cursos presenciais”, defendeu. O professor destacou também a utilização dos mais de 450 mil turismólogos formados, com nível superior, para auxiliarem essa qualificação.

A audiência pública contou também com a presença de Marcelo Machado Feres, diretor de Integração das Redes de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, João Lino, superintendente da ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Edmar Bull,  vice-presidente da Abav Nacional (Associação Brasileira de Agentes de Viagem), e de Irma Carla,  presidente da Fenagtur (Federação Nacional dos Guias de Turismo).