Em transmissão realizada ao vivo no Facebook, uma guia conduz 325 espectadores de vários países do mundo por um dos rituais da felicidade finlandesa

Em transmissão realizada ao vivo no Facebook, uma guia conduz 325 espectadores de vários países do mundo por um dos rituais da felicidade finlandesa

Ela abre a live cortando lenha em um parque nacional a 25 km de Helsinque. Entre uma marretada e outra, a autointitulada "coach" explica por que o país nórdico é considerado a nação mais feliz da Terra.

Após enumerar platitudes, como "o segredo da felicidade é estar presente no momento", a guia cita dois motivos que colocaram a Finlândia no topo da lista do relatório mundial da felicidade: um ótimo sistema público de saúde e um estado de bem-estar social que funciona.

Ela então coloca os pedaços de madeira em um forno dentro de uma casa a poucos passos de um lago.

Sai de cena para vestir um biquíni e, quando volta, entra na sauna que ferve a uma temperatura entre 80º C e 100º C. Depois de alguns minutos, deixa a sauna e mergulha no lago, não sem antes levantar um termômetro para a câmera e mostrar a temperatura da água: 7ºC.

O passo final do ritual é beber um suco feito a partir da seiva de uma erva encontrada no próprio parque.

A transmissão realizada no último dia 15 foi a primeira da campanha "Adote um finlandês", promovida pela agência de turismo da Finlândia. A edição 2019 foi presencial, mas, neste ano, devido à pandemia de coronavírus, a iniciativa será toda virtual.

A ideia é atrair turistas para o país, vendendo uma suposta sensação de felicidade que residiria no contato com os cenários naturais locais.

Um dos destinos é o parque Nuuksio, uma reserva ambiental perto da capital, onde é possível fazer trilhas a pé, observar pássaros, colher frutas vermelhas e cogumelos, escalar e pescar -além de ferver as toxinas do corpo no vapor de uma sauna e mergulhar no lago gelado em seguida, como mostrou a guia.

Outro é a congelante Lapônia, região no extremo norte finlandês conhecida por ser a terra do Papai Noel e pelo fenômeno da aurora boreal.

Com as regras de distanciamento social no país, no entanto, o chamariz da campanha se tornou uma série de lives com uma hora de duração transmitidas pela página Visit Finland no Facebook.

Os interessados podem aprender a fazer crochê e artesanato com finlandeses, coletar ervas em ambientes urbanos e utilizá-las para cozinhar, além de se exercitarem na natureza. Virtualmente, claro.

Também será possível agendar sessões individuais de 15 minutos com um finlandês para falar sobre o segredo da felicidade.

"O relatório [da felicidade mundial] tem a ver com itens como sociedade, democracia e estado de bem-estar social. Mas tem coisas que as pessoas que não vivem aqui poderiam experimentar também, como a natureza, com a qual os finlandeses têm uma relação especial", diz Hetta Huittinen, coordenadora de relações públicas da iniciativa.

Huittinen afirma que nos últimos anos há um esforço do governo finlandês em atrair turistas para o país.

Em 2017, ano mais recente com dados disponíveis, o setor gerou 15 bilhões de euros (R$ 94 bilhões) à economia finlandesa, o equivalente a 2,6% do PIB. Foi um crescimento modesto em relação aos dois anos anteriores -o turismo representou 2,5% do PIB em 2016 e 2015.

Para comparação, na vizinha Noruega o turismo representou 4,2% do PIB em 2017, segundo dados do governo.

Neste ano, com as viagens internacionais prejudicadas pela pandemia de coronavírus, a expectativa da Finlândia é menor, mas ocupar o primeiro lugar no ranking mundial da felicidade pelo terceiro ano seguido estimulou o governo a seguir investindo em marketing.

Produzido anualmente por pesquisadores de universidades renomadas -dentre as quais Columbia, Oxford e London School of Economics-, o estudo aponta que "benefícios sociais confiáveis e extensos, baixa corrupção e instituições de bom funcionamento" são fundamentais para a felicidade na Finlândia.

Conta também o alto nível de confiança social entre as pessoas.

Os dinamarqueses são o segundo povo mais feliz do mundo, seguidos pelos suíços. O Brasil aparece mais abaixo, na posição 32, a mesma que ocupava no ano passado. O país mais triste é o Afeganistão, em 153º lugar.

A agência de turismo finlandesa está de olho também nos viajantes conscientes do distanciamento social que devem aportar por lá depois da pandemia, quando o país tiver voltado ao normal, e as atrações, funcionando normalmente.

"A Finlândia não é particularmente cheia, para começo de conversa. Neste país, mesmo quando tudo está aberto, você pode ir a todos os lugares e há espaço para passear", finaliza Huittinen.