O jornalista Cláudio Magnavita comenta o processo eleitoral da ABIH NACIONAL em artigo de opinião no Jornal de Turismo 

Por Cláudio Magnavita* 

O processo eleitoral da Associação Brasileira da Industria de Hotéis - ABIH merece uma reflexão por parte dos associados e especialmente das lideranças regionais da hotelaria brasileira.

Coube à gestão anterior, do presidente Manoel Linhares, juntar os cacos. Como estava a octogenária ABIH há apenas alguns anos? Alguém ainda se lembra?

A dura realidade é que a entidade, a mais antiga em atividade no setor do turismo, já havia deixando a fase de UTI e fora despachada para o necrotério. Estava praticamente morta, com uma gestão que sugou toda a sua energia associativa por conta de negócios não explicados até hoje. Convênios em paralelo com um instituto de hospedagem e até no próprio CNPJ da Associação com entidades como o Sebrae Nacional.

A associação ressurgiu dos mortos, como um verdadeiro Lázaro, graças a abnegados hoteleiros que expurgaram o então presidente em resto de mandato e com um caminhão de coisas para explicar.

Este período de trevas teve início em um processo eleitoral confuso, com uma eleição pilotada por advogados, com impugnação de eleitores e que terminou com a derrota do candidato Eliseu Barros, do Ceará, e a eleição de Enrico Fermi Torquato, do Rio Grande do Norte, exatamente pela diferença dos votos que foram impugnados.

Com a entidade rachada e em pleno período dos milionários convênios da Copa, a ABIH chegou ao extremo de bancar uma grande Cobertura em Brasília para turbinar a vida social e institucional do seu presidente.

Todo este “acidente” teve como gênesis o projeto de profissionalizar a gestão da Associação. O decano Álvaro Bezerra de Mello foi eleito para suceder a Eraldo Alves da Cruz, que terminava o seu mandato e assumiria como Presidente Executivo, sendo remunerado pela função. Já com certa idade, Dr. Álvaro, como era respeitosamente chamado pelos seus pares, aceitou compartilhar parte das funções com um executivo de peso feito Eraldo.

Foi quando ocorreu o primeiro tropeço. Alves da Cruz recebeu um convite irrecusável da CNC e não pôde seguir como executivo da ABIH. Vários nomes foram testados, inclusive do Ricardo Kawa, e todo o peso da gestão recaiu sobre Bezerra de Mello e sua já avançada idade.

É neste período que surgem os milionários convênios com o Instituto Brasileiro de Hospedagem, criado no guarda-chuva da ABIH e comandado por César Gonçalves, que contratou com o Ministério do Turismo convênios no valor de 52 milhões, como informa O Globo, em 20 de julho de 2011. Dois convênios de R$ 9,9 milhões e um outro de R$ 16,8 milhões no dia 31 de dezembro de 2010. Em 06 de julho de 2011, o IBH celebrou o último contrato com o ministério no valor de R$ 25,5 milhões.

De acordo com O Globo: “Um dos responsáveis pela contratação da IBH é o Secretário-executivo do Ministério, Frederico Costa e Silva. Procurado pelo GLOBO, ele não fez comentários sobre as pendências judiciais de Gonçalves e afirmou que o IBH foi contratado por ser ligado à Associação Brasileira da Indústria de Hostéis-ABIH. – O principal critério utilizado foi a representatividade da ABIH junto ao segmento de meio de hospedagem. Enfatize-se que a ONG foi escolhida pelas outras três entidades da categoria, no âmbito do Conselho Nacional de Turismo, como a que deveria executar o programa de qualificação- disse por e-mail”.

(A matéria de O Globo pode ser lida na integra no link: https://oglobo.globo.com/politica/turismo-assinou-contratos-de-52-milhoes-com-ong-de-empresario-indiciado-por-improbidade-administrativa-2713564 )

Foi essa ABIH que o Fermi disputou e como o próprio Ministério do Turismo afirmou em nota: “o IBH foi contratado por ser ligada à Associação Brasileira da Indústria de Hotéis”.

Com a saída do Fermi começou o duro trabalho de reconstrução da Associação. A eleição de Manoel Linhares foi uma grata surpresa na época. Um empresário dono de um grande patrimônio familiar aceitava emprestar o seu CPF a uma entidade cheia de esqueletos no armário.

O que ele realizou neste curto período foi surpreendente. Além da compra de uma sede própria em Brasília, ele se fez onipresente nas mais importantes agendas do turismo nacional.

Todos sabem que seus deslocamentos foram bancados com recursos próprios e que ele não poupou esforços para resgatar a credibilidade da quase nonagenária associação.

Com seu jeito simples e, às vezes, até folclórico, chamando todos de baixinho, Manoel criou uma corrente de amizade e de proximidade com o poder. Restaurou a representatividade da hotelaria e da sigla ABIH. Reconquistou setores importantes da hotelaria, que haviam se afastado após os escândalos do passado, como é o caso da ABIH-RJ, que responde por uma significativa parte da receita da entidade. O presidente Alfredo Lopes não poupa elogios a atuação institucional do “baixinho” e a sua capacidade de deixar de lado os seus negócios para representar a hotelaria.

Na semana passada, todos foram surpreendidos pelo surgimento de uma chapa concorrente, pilotada por uma gestora hoteleira que administra um hotel em Goiás e outro em Palmas, com apoio de representantes dos dois estados. Nas justificativas está a alegação de que a atual gestão só fez marketing e deixou as grandes pautas de lado, cita até uma omissão sobre o jogo.

Ela não lembra, por exemplo, que o Brasil esteve representado pelo seu presidente em um dos mais importantes fóruns da hotelaria mundial, realizado em Barcelona para combater o AirBnb? Sabem quem pagou a passagem do presidente até a Europa? Ele mesmo.

Uma questão surge de forma imperativa: é hora da hotelaria estar se dividindo novamente? Um embate, com a forma primária desta neófita oposição e da composição da chapa, pode levar a uma judicialização. Quem ganha com o enfraquecimento da liderança do Manoel Linhares?

A pergunta fica com uma resposta ainda mais cabeluda quando se descobre que o Linhares possui grande credibilidade com a atual gestão da CNC, e que uma das maiores lideranças é também do Ceará, Luiz Gastão de Bittencourt da Silva e seu fraterno amigo.

O processo de renovação é importante, e é fantástica a ideia de um dia a ABIH ter um dia uma mulher como presidente. Erika Drumond, que será vice nacional na chapa do Manoel Linhares foi uma grande presidente da ABIH de Minas.

É bom arrancar os retrovisores. Olhar para frente. Mas é importante não esquecer os erros do passado e lembrar que a ABIH atravessou um dos períodos mais negros da sua história nesta década que ainda não terminou.

O mais preocupante é que no fundo parece haver uma fumaça de preconceito pela forma espontânea e carinhosa do Manoel Linhares de agir. Neste momento que o Brasil atravessa, isso virou um ativo. É só observar a atenção do presidente Bolsonaro com o baixinho. A sua reeleição é um direito que possui. Enfrentar a oposição não lhe roubará o brilho de uma vitória, porém é a ABIH que perde, ao trazer para 2019 os mesmos ingredientes que levou a entidade a mergulhar em um mar de lama que muitos acreditavam que seria difícil se recuperar.


Por Cláudio Magnavita – Presidente do Jornal de Turismo