O prejuízo para a companhia aérea foi grande: avião no chão, pagamento de hospedagem para centenas de passageiros e colapso na malha pelo não regresso da aeronave.

O caso dos três tripulantes da British Airways que se envolveram em uma confusão no Rio ganhou uma dimensão prejudicial à imagem da cidade. Não foi a tripulação em translado ao hotel oficial que foi assaltada. Tudo transcorreu bem no trajeto aeroporto/ Gran Hayatt, na Barra. Já instalados, eles resolveram ir à Roda de Samba na Pedra do Sal (Gamboa), em plena segunda-feira. O local, um dos pontos preferidos pelos "turistas gringos", apesar da precariedade, falta de segurança. Ou seja, precisa de um choque de ordem.

Os três tripulantes acabaram se separando. A farra foi grande. Na madrugada, um deles alega ter sido vítima de um "boa noite Cinderela", perdendo o celular. Eles resolverem pegar um táxi na fila oficial, quando teve o início de um circo dos horrores. Pelos relatos, o taxista, que está sendo procurado pela polícia, participou de uma armação que envolveu comparsas em moto. Os ingleses foram levados até Vicente de Carvalho e assaltados; foram abandonados em um posto de combustível. Uma passageira tinha dois celulares e conseguiu esconder o segundo aparelho. Ao tentar chamar um Uber, novamente assaltados. Procuraram uma viatura da polícia militar e foram levados à Delegacia de Polícia da jurisdição. Como o caso ganhou dimensão, foi encaminhado à Delegacia de Atendimento ao Turista, comandada pela Delegada Patrícia Alemany. Em pleno feriado, eles agiram. Conseguiram o depoimento das vítimas no próprio hotel. O voo foi adiado porque um deles tinha cargo de chefia e considerou o estado emocional de um dos colegas delicado, postergando a viagem.

Como as empresas aéreas estão operando com tripulações mínimas, por uma questão de segurança, seria impossível manter a relação legal entre comissário e número de passageiros. Não havia outra tripulação disponível no Brasil.

O grave neste caso é que não eram turistas, e sim funcionários de uma companhia aérea de longo curso, cumprindo o horário de descanso regulamentar, a caminho de volta para Londres, em outro voo repleto de passageiros.

Nesta estada de 72 horas, resolveram virar a madrugada de segunda para terça no outro lado da cidade, indo para uma gandaia, em um lugar que, cada vez mais, se registram problemas com turistas estrangeiros. Beberam todas, um deles se perdeu e apagou, relatando até a vaga lembrança da passagem por um hospital. O reflexo desta esbórnia em um descanso técnico foi cancelar o voo e culpar a cidade por um problema em que os três também tiveram responsabilidade, pelo comportamento extremo e arriscado.

A polícia está investigando e vai chegar ao taxista e seus cúmplices. Tudo isso em um início de semana.

O prejuízo para a companhia aérea foi grande: avião no chão, pagamento de hospedagem para centenas de passageiros e colapso na malha pelo não regresso da aeronave.

O que não se pode é culpar o destino Rio pelo comportamento de três tripulantes, sendo um deles com cargo de chefia. Fica para as autoridades um apelo de promoverem uma ordem urbana na Pedra do Sal. Se o destino caiu no gosto dos estrangeiros, não pode virar uma arapuca para os visitantes. O Rio tem avanços enormes na área de segurança e não pode ser crucificado por uma notícia parcial. Cabe à British Airways averiguar e apurar o comportamento do comissário que sumiu, dos dois que sofreram um duplo assalto, bem longe do hotel que estavam hospedados, e medir o prejuízo dos passageiros — e da própria companhia.

*Diretor de redação do Correio da Manhã