Nota da assessoria de imprensa do evento contraria todo o trabalho de articulação da presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara.

 

Cláudio Magnavita


A deputada Raquel Teixeira esteve ontem visitando o Salão do Turismo e realizou diversas reuniões nas quais deixou bem claro que o Cbratur 2010 é um evento do Congresso Nacional e que a sua inteira gestão cabe exclusivamente ao parlamento, não estando nenhum preposto autorizado a falar como porta-voz do mesmo.

Ao demarcar as fronteiras de responsabilidade do Cbratur, a presidente da Comissão de Turismo reconhece a necessidade de uma interlocução prévia com o grupo gestor do Conselho Nacional de Turismo que preparou o documento referencial 2011/2014, elaborado depois de exaustivas reuniões e que seria inicialmente lançado no próximo dia 22, na reunião do Conselho Nacional de Turismo, ou seja, um dia depois do evento promovido pela Câmara.
Pela sua formação acadêmica, a deputada Raquel Teixeira, que, aliás, inclui o título de professora no seu nome político, considera esta interlocução muita necessária para que o documento seja cedido com legitimidade para uso do Cbratur.

Ficou marcada para a próxima terça-feira, em Brasília, uma reunião extraordinária do grupo de 13 entidades e no final do dia o diretor do Ministério do Turismo, José Falcão foi orientado pelo secretário Carlos Silva a iniciar o processo de convocação.

Porém, no final da noite de ontem, a assessoria de imprensa do Cbratur distribuiu uma nota na qual afirma: “O documento ‘O turismo como matriz do desenvolvimento – propostas e compromissos Brasil 2011/14’ não teve a preocupação de definir números para cada ação proposta pela cadeia produtiva do setor. ‘É um documento, acima de tudo, pragmático, pois expõe a realidade do turismo brasileiro, oportunidades, ameaças, forças e suas fraquezas, visando formalizar propostas substantivas para o seu desenvolvimento’, explicou a deputada Raquel Teixeira. O documento será apresentado e debatido pelos presidenciáveis durante o XII Cbratur, 22 de junho próximo, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados.”

Como se trata de uma assessoria de imprensa específica para o evento, contratada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) e não a assessoria de comunicação da Comissão de Turismo, a nota contribui para desconstruir todo o trabalho de interlocução que a deputada teve no dia de ontem, inclusive com o próprio ministro do Turismo, Luiz Barretto.

Como a deputada possui um currículo ilibado e é reconhecida no parlamento, até por oposicionistas, como uma pessoa extremamente séria e coerente com as sua posições, só resta duas hipóteses: a de um lapso infeliz da assessoria contratada que não estava sintonizada com as ações políticas da deputada e real gestora do Cbratur, ou ainda, uma tentativa de comprometê-la publicamente com uma posição anteriormente assumida e levada pela CNC de aproveitar o documento referencial elaborado pelo grupo de trabalho do Conselho sem a concordância prévia do presidente do Conselho e do seu secretário geral.

Resta também a hipótese de que o documento já citado na nota da assessoria de imprensa do Cbratur faça referência a um documento totalmente novo e redigido nos últimos dias, que será apresentado de forma independente, já que torna desnecessário submetê-lo à reunião já convocada para a próxima terça.

Prevalecendo a hipótese da nota ter sido distribuída sem estar conectada com a movimentação política da presidente da Comissão de Turismo da Câmara, nas últimas 48 horas, fica claro que é preciso colocar ordem na casa e submeter de forma absoluta a gestão da edição do Cbratur ao parlamento, cortando as asas de uma vida própria que só tem trazido aborrecimentos e atropelamentos na edição 2010 de um precioso trabalho em prol do turismo brasileiro.

O que mais tem irritado os dirigentes do turismo brasileiro é que todo um trabalho construído em uma década, a quem deve ser creditado sucessos como a sugestão da criação do próprio Ministério do Turismo, que se transformou em um instrumento valioso para o setor, está sendo jogado na lata do lixo por uma decisão da Confederação Nacional do Comércio (CNC) de assumir de forma abrupta as rédeas do evento e transformá-lo em um instrumento de marketing na sua disputa de espaço com a recém-criada Confederação Nacional do Turismo (CNTur), para se posicionar como a legítima interlocutora do turismo com os presidenciáveis e até se aproveitar de um trabalho intelectual que foi realizado em 12 reuniões de trabalho ao longo dos últimos meses.

Lamentável que a CNC tenha deixado o seu papel de sutil apoiadora e queira agora atropelar os verdadeiros titulares do evento. Dentro do tumultuado quadro, agora agravado pela distribuição de um press-realese que contraria a Câmara, deveria chamar outras instituições para assinar o evento, diluindo o impacto da inédita e não habilidosa condição.

O episódio acaba gerando um desgaste à CNC, seja junto ao Ministério do Turismo, ao Conselho Nacional de Turismo ou, principalmente, ao parlamento, o que só favorece a CNTur, que está surfando nesta onda de vaidade da sua co-irmã.

O desespero da CNC de tentar manter o seu espaço no turismo, mesmo atropelando internamente os antigos interlocutores que conferiram à Confederação uma forte blindagem, que dificilmente era quebrada pela CNTur, deve-se ao fato de estar-se junto ao processo da nova confederação, nomes expressivos do turismo nacional, como Paulo Gaudenzi, professor Mario Benni, Caio Luiz de Carvalho, Carlos Alberto Amorim e outros.

Sem dúvidas, as tentativas atrapalhadas cometidas pela CNC na sua interlocução com o turismo, acabaram se transformando no principal combustível do espaço que a CNTur passou a ocupar. É como se um castelo de cartas estivesse ruindo por conta de erros internos e externos da interlocução, que trocou a prudência pela vaidade.

Cláudio Magnavita é presidente da Abrajet Nacional.

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