Fernando Pratti
Confira entrevista exclsuiva com Antonio Azevendo, reeleito presidente da Abav Nacional no último sábado, em SP

 

Por Fernando Pratti, São Paulo
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

No último sábado, Antonio Azevedo, presidente da Abav Nacional, foi reeleito para mais dois anos à frente da associação. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Turismo, um dia antes da eleição, que acontece neste sábado, no Novotel Jaraguá, Azevedo falou avaliou os dois anos em que comandou a entidade dos agentes  de viagens. Falou sobre os desafios que virão para o próximo biênio, as novidades na Feira das Américas, que ganhará 15 mil metros quadrados a mais em sua segunda edição simultânea no Anhembi. O presidente também falou sobre os desafios dos profissionais, da necessidade de capacitação que a profissão exige do porque relutou para seguir para um segundo mandato. Confira.

JT – Qual avaliação você faz desse seu primeiro mandato à frente da Abav Nacional e quais as principais conquistas obtidas no período?
Fernando PrattiAntonio Azevedo - Bom, o grande desafio quando a gente assumiu era o evento da Abav, que era organizado no Rio de Janeiro e tivemos que tomar uma decisão se continuava ou mudava para São Paulo. Naquela época, a gente tinha realizado uma pesquisa no Rio, dentro do evento, que indicava que a vinda para São Paulo era mais viável. Foi todo um processo de planejamento para que quando a gente viesse para São Paulo tivesse sucesso. Porque em uma mudança a gente sempre fica preocupado, mas felizmente obtivemos êxito. Recentemente, a gente viu que era uma decisão não só viável como acertada, no ponto de vista de que estamos no centro de mercado, o maior mercado fornecedor do Brasil. Essa foi a grande meta a ser comprida: renovar o evento e fazê-lo voltar a ser um ponto de referência dos eventos de turismo dentro do Brasil. Isso nos causou uma satisfação muito grande, no sentido que o evento passou a ser bom para a todos. Não adianta fazer um evento muito bonito e não ter resultados. A gente viu esse ano que o evento teve vida, negócios, networks. Foi tudo o que a gente realmente queria. Esse foi um ponto fundamental, mas enfim tínhamos outras metas para cumprir e contamos com um apoio grande das Abavs estaduais. Nós somos umas das poucas entidades do turismo que tem representações em todos os Estados do Brasil, representações democráticas, inclusive. Nossos estatutos não permitem mais que uma releição, então há sempre uma renovação constante nos quadros, com pessoas novas vindo participar das atividades, que para orgulho nosso são demandadas permanentemente, não só pela imprensa, mas pelo governo, associados e pela sociedade. Fizemos diversas ações desse sentido, como melhoria no processo de comunicação, coisas até práticas, como instalar Skype em todas as Abavs para que o pessoal possa se comunicar melhor, colocar as Abavs informadas do que está se passando, reforçar o processo de comunicação, não só através da assessoria que mudamos quando assumimos, mas com essa preocupação das Abavs acompanharem o que está acontecendo na Nacional. Cada uma das Abavs tem uma personalidade jurídica própria, mas fazem parte de um sistema. Então, nessa unificação das linhas de pensamento do sistema é importante a questão da comunicação, que evolui bastante.

JT – E em relação à capacitação dos profissionais do setor?
AA - Esse é um ponto que vamos tratar com mais força na segunda parte da gestão: capacitação, que sempre foi a minha praia. Por um longo tempo, fui diretor da Iccabav e sou apaixonado por essa questão porque é essencial para um agente de viagem estar capacitado. Se não estiver, realmente tem muita dificuldade para sobreviver. Então, é um ponto que continuamos ter uma atenção muito especial na Abav.

JT – Podemos dizer que a capacitação é a principal prioridade da associação?
AA - É essencial. Eu diria que é um dos pontos mais importantes dentro da Abav. Não que seja o único, porque dentro do contexto que nós temos, além de ter o contato com os profissionais, a Abav é uma entidade de empresas. Então, nós temos que estar atentos às necessidades, como questões fiscais, trabalhistas e legais de um ponto geral. Outro ponto que a gente mudou foi a assessoria jurídica, que foi estendida para todas as Abavs. Agora, a assessoria jurídica da Abav Nacional atende todas as outras Abavs quando necessário. Há um padrão de orientação, uma visão macro dessa questão. Fizemos seminários no Brasil inteiro para orientar as agências de viagens sobre as questões relacionada aos consumidores, essa parte que é fundamental para que a agência de viagem como empresa possa sobreviver. Se o profissional não tiver conhecimento, a empresa não tem como atender bem o cliente e o acaba perdendo. Então, essas duas coisas andam junto, tanto quanto o lado do profissional, quanto o empresarial.

JT – Vários convênios foram feitos na atual administração. Eles devem ser mantidos e até se expandir para a próxima?
AA - Uma outra questão que nós desenvolvemos foi uma série de convênios que vão ser ampliados, que vão beneficiar diretamente não só as agências, mas também os agentes de viagens. A Abav de uma forma efetiva contribui no dia a dia de uma forma simples. Estamos tentando ampliar isso de uma forma mais avançada para que nossos colaboradores, as agências, possam ter benefícios. Um outro ponto que nós desenvolvemos foi uma questão de convivência com o governo. Nós investimos fortemente numa primeira etapa pelo lado executivo, uma aproximação grande e vitoriosa com o Ministério do Turismo e Embratur. Temos participado de diversos fóruns, Conselho Nacional de Turismo e Conselho da Anac. A Abav está com presença muito mais sólida e constante. A gente estava um pouco afastado dessas questões e a Abav sempre foi uma referência e, agora, voltou a ser.
Um outra questão que conseguimos avançar foi a internacionalização da Abav. Praticamente estávamos afastados de eventos internacionais em relação a outras entidades internacionais. A gente aderiu ao Fórum de Agências de Viagens da América Latina, fomos um dos fundadores desse fórum, que tem sido bastante importante, até porque os problemas são bem parecidos nos países da região e integramos o WTAA, uma organização mundial que nos deu visibilidade, uma entidade que não é aberta, tem que ser convidada, e tem sido muito bom o nível de contatos, a gente poder através da representação do WTAA, esta junto a cúpula da Iata, a cúpula do transporte aéreo dos Estados Unidos, a cúpula do órgão europeu do transporte aéreo, uma visão global é importantíssima, para que a gente possa estar inseridos nesse contexto que o turismo representa que é uma atividade global.
A gente tem procurado que a Abav tenha uma presença constante não só institucional, mas também a nível operacional, que ela seja útil para o seu associado, esse é um ponto chave se não, tem porque existir uma entidade que não seja útil para seus associados, então nós procuramos resgatar esse utilidade e vamos continuar trabalhando nesse sentido.

JT – Com a reeleição, um novo mandato vem pela frente. Quais os principais desafios para essa nova etapa?
Fernando PrattiAA - Na verdade, as coisas não mudam muito. Há uma sequência. Eu diria que essa primeira parte foi um ciclo de estabilização, de fazer com que as coisas voltassem às engrenagens no lugar certo e com metas a serem cumpridas. A segunda etapa é de consolidação e crescimento, em diversas questões, basicamente o cenário que nós traçamos para o horizonte, quando assumimos. Esses objetivos mudam constantemente e você tem que se estar atento à mudança e se adequar. Especialmente no nosso segmento, as mudanças estão sendo muito rápidas. Com essas questões todas de internets, temos que saber usá-la como aliado e não como obstáculo. Estamos com planos bastante importantes, agora mesmo estava sentado, debatendo o plano macro de comunicação para a nova gestão, inúmeras novidades e um aprimoramento ainda mais forte em relação não só à imprensa, mas em diversos canais que nós temos que estar presentes, em nível de público consumidor e em nível de governos. A visão que nós temos que ter em relação a esses canais é de como nós temos que nos comunicar com eles. Nosso público interno que é importantíssimo e temos que estar alimentando sempre nosso público interno. A feira, a cada ano que passa, a gente se renova, tenta se aperfeiçoar cada vez mais e a desse ano foi um sucesso. Mas têm alguns pontos que precisam ser mudados e nós ja estamos trabalhando em cima desses ajustes para que a do ano que vem seja ainda maior, não só em tamanho, mas ela terá inclusive uma mudança de nome, que será Abav Expo Internacional de Turismo, para ter uma internacionalização mais ampla.

JT – Como a entidade vem trabalhando a questão da transparência da informção junto aos seus associados?
AA - A gente tem um cuidado com a questão transparência da informação. Por exemplo, um número representativo que tivemos foi 38.900 mil participantes profissionais na feira. É um número real, mesmo as pessoas entrando e saindo todos os dias, a contagem no mundo inteiro é feita dessa forma, então a transparência de informação na realidade, sem muita fantasia, é importante.
Em nível dos agente de viagens, porque a gente chamou a chapa de Pró-Agências, pelo próprio nome dela, já é pra mostrar qual que é o foco principal, a razão de ser da Abav é ser a favor das agências de viagens. Além de ter o norte, a gente tem que traçar as rotas e os caminhos e agora é decolar para um outro patamar. Precisamos nos consolidar em um primeiro patamar, que tinha alguns buracos, "tapar buracos, arrumar o asfalto e agora, sim, temos estrada" para subir para outro patamar. A questão da capacitação está discutindo algumas novidades. Vamos partir para um processo de certificação profissional, certificar o especialista em destinos - especialista em diversos segmentos - para a pessoa ir se especializando. Isso é trabalhoso e demorado, mas a gente pretende implementar ainda nessa segunda gestão, porque isso valoriza o agente de viagem.

JT – Uma das metas dessa primeira administração era a regulamentação da agências de viagens. Ela está parada no Congresso. Isso gerou uma frustração?
Em nivel institucional, a gente tem uma esperança. Na verdade, já tinhamos a esperança de conseguir na primeira gestão, que é a aprovação do projeto de regulamentação das agências de viagens, que é uma regulamentação das agências e não da profissão, da categoria. É uma questão que está para ser concretizada. Tenho fé que, na segunda gestão, a gente alcance essa meta. Isso é ponto de honra e de partida a questão da regulamentação, pois dá uma base. A documentação não pode ser só por decreto, ela tem que ser regulamentada. Nosso conselho de ética vai ter um trabalho bastante forte, primeiro preparando o instrumento e depois viabilizando que em todas as Abavs existam câmaras de conciliação, para facilitar a vida do consumidor, porque é a nossa razão de existência.

JT – E a aproximação da associação com o poder executivo que voltou a acontecer nesta administração?
AA - Desde a primeira gestão, a gente deu um foco mais forte em relação ao poder executivo, mas pretendemos ter um posicionamento mais próximo ao poder Legislativo, e até com o Judiciário numa segunda fase, quando a gente puder avançar na questão de responsabilidade solidária. A gente já tem uma certa aproximação mas ainda é bastante pequena.

JT – A maior parte do mercado é formada por pequenas agências. Como a Abav Nacional olha para elas?
AA - Basicamente, a gente está nessas questões éticas, operacionais. A gente está vendo que as pessoas só podem ser competitivas se forem capacitadas. A gente vai procurar fazer com que as agências tenham realmente, mesmo as pequenas agências, instrumentos para que possam sobreviver. A gente pretende avançar em viabilizar um novo acordo no Sebrae ou com o Ministério do Turismo. Com tudo isso, temos já muito com o que se preocupar durante essa nova gestão.

JT- Depois de dez anos, a feira dos agentes saiu do Rio e foi pra São Paulo. Como toda mudança, vários problemas apareceram. Como vocês estão trabalhando para resolvê-los?
AA - Nós fizemos na feira uma pesquisa bem grande com uma entidade neutra e conseguimos alguns dados já liberados. O índice de aprovação do novo local do evento está entre ótimo e bom e chega 90%. Outros dados, falando por cima, são muito positivos, como por exemplo em relação aos banheiros e transportes. Mas tem alguns pontos que sabemos que precisamos melhorar. A Vila do Saber não tinha uma localização adequada. Tivemos também questões de logística e de barulho. O piso do pavilhão também teve reclamações, mas já trabalhamos para que em 2014 não tenha esse problema. Mesmo não sendo nossa culpa e sim do local, mas a reclamação faz parte de um total. Vamos ter uma aérea mais ampla. Nós estávamos ocupando o pavilhão norte e sul e para o ano que vem iremos ocupar também o oeste, com 15 mil metros quadrados a mais. Dentro desse contexto, nós temos que ir à luta para que o pavilhão continue sendo um atrativo. Vamos continuar nossa parceria com a Braztoa, Abeta e Abracorp e, possivelmente, tenhamos mais alguns acordo, embora não tenha nada ainda fechado . A gente está aberto para parcerias. O Brasil tem que ter um evento dessa natureza, onde todos estejam presentes. A gente já tem quase 80% dos principais segmentos do turismo, mas vamos continuar nos aproximando das entidades. Temos que aumentar também o número de anúncios, conseguir alcançar mais pessoas. Vamos mudar a questão de horários e distribuição de dias. Parte do congresso, da Vila do Saber vai abrir mais cedo para que as pessoas possam participar das duas coisas. A cada ano, a gente vai melhorando e fazendo ajustes. A ideia é ir melhorando. Este ano, foi até acima de nossas expectativas e o índice de satisfação é enorme.
E o caminho é esse. Não podemos também inventar coisas demais. A Abav continua sendo uma entidade dirigida por voluntários. Precisamos nos desdobrar para a família, nossa empresa e a associação. No momento, a distribuição está meio errada: estamos 80% com foco para a Abav.

JT – Soubemos que você relutou para concorrer a esse segundo mandato. Por que?
AA - É pesado. Fico toda semana praticamente fora de casa, sempre viajando. O Brasil é muito grande, a demanda é muito forte e tenho que me desdobrar para conseguir realmente fazer o máximo de coisas. Quando entra numa causa dessas, tem que ter algum tipo de motivação. Eu acredito que o agente de viagem vai continuar a ter uma fatia grande no mercado. As coisas mudam, os tipos mudam, hoje é verdade, amanhã não é e a questão do atendimento presidencial vai continuar tendo. Você tem que se adequar as características e nosso povo é resistente a viagem. O passado já passou e agora tem que olhar para frente, ver como vamos fazer para melhorar. Enfim, tudo isso pesou para continuar e minha família também influiu muito.
O pessoal pediu para eu continuasse e eu acabei tomando a decisão de aceitar, já que não tinha nenhum outro corajoso para aceitar. É importante a gente ter esse apoio, mas aumenta a responsabilidade à medida que o pessoal confia em você e aí você fica mais cada vez mais ansioso para cumprir sua função da melhor forma possível. Eu me cobro muito e isso acaba sendo estressante. Às vezes, a gente se decepciona com algumas situações, mas tem que ter maturidade de absorver e melhorar. Sou responsável, já que eu assumi e quero fazer o melhor. Não sou perfeito, mas quero fazer o meu máximo.

JT – Deixe uma mensagem para os agentes de viagens e o que eles podem esperar da Abav nos próximois dois anos.
AA - Tem uma mensagem que eu gosto muito, que não é minha, mas eu citei quando fui eleito a primeira vez, no inicio do meu pronunciamento e vou citar sábado no final do meu pronunciamento. A mensagem é: “sempre amanhecer quando você caminha em direção ao sol". Minha mensagem para o agente de viagem é essa: tem que olhar para frente, ao amanhecer, para que posso caminhar em direção ao sol, ter uma luz que me ilumine para que possa ser um bom profissional e possa atender acima de tudo o consumidor. E volto a dizer: aceitei ser o presidente da Abav porque eu acredito no trabalho dos agentes de viagens. Isso foi o principal ponto, é o plano. Enquanto eu acreditar, estou aqui. Basicamente, é essa a motivação pro agente de viagem, que continuará ter espaço, mas ele tem que ser preenchido com conhecimento e com valor agregado. Tem que saber competir se quiser vencer.