Novos rumos no Cbratur parecem mais beneficiar a CNC na sua disputa com a CNTur do que gerar um documento de defesa do turismo, deixando aos parlamentares o papel de protagonistas.

 

Cláudio Magnavita

Realmente, o Salão do Turismo é um momento para reflexão. O editorial publicado na edição de ontem gerou várias manifestações. Abordamos a questão da realização do Cbratur 2010 e a tentativa, através da mídia, de uma série de ações da CNC (Confederação Nacional do Comércio) deixar o papel de mero apoiador e assumir uma posição de protagonista. Esta ação é até compreensível, já que a CNC passou a dividir a representação patronal do turismo com a recém-criada CNTur (Confederação Nacional do Turismo) e precisa de um esforço de marketing para se posicionar como a entidade oficial do setor devido à concorrência. Só que agora errou o tom.

Nos anos anteriores, o papel da CNC era muito mais discreto em sua relação com a CTD (Comissão de Turismo e Desportos) da Câmara e com a CDR (Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo) do Senado. Uma sutileza que a colocava em um papel exclusivo de coadjuvante e apoiadora,

Se a CNC quer ocupar o seu lugar, que use a sua “força” para agir em um cenário próprio, sem precisar usurpar o papel de porta-voz do evento, que deve ser sempre dos parlamentares e não de nenhum proposto da entidade sindical. A CNC deveria olhar para o ladoe adotar o modelo que a sua co-irmã, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) realizou nesta semana. A confederação deu um show de competência ao reunir em um grande encontro da indústria os três précandidatos à sucessão presidencial.

Em uma só manhã, recebeu o PIB industrial brasileiro, não apenas para entregar um documento, mas para discutí-lo. Os candidatos ouviram em viva-voz as principais reivindicações dos diferentes setores que representa. O evento começou com cinco representantes da CNI, entre elesFrederico Curado, da Embraer. André Gardel e Horacio Lafer Piva foram os oradores. Depois deles, cada candidato isoladamente falou sobre o documento referencial produzido pela confederação e da sua visão sobre os temas abordados.

No final, dois dirigentes escolhidos pelo peso do setor ou da região que representam fizeram perguntas ao candidato que acabava de falar. Foi um show de organização e a CNI mostrou que é uma entidade democraticamente dirigida e com intensa participação, o que revelou o grau de alta representatividade e sintonia com as bases.

O que assistimos no turismo é uma entidade pegando carona em um evento da Câmara e do Senado e irritando os verdadeiros protagonistas. Engana-se quem achava que poderia manipular ou colocar debaixo da sua asa a atual presidente da CTD. Apesar da sua aparente aparência frágil, a deputada Raquel Teixeira é atenta às tentativas de manipulações. Como educadora, com experiência de formação no exterior e com um currículo que passa por duas importantes secretarias de Estado,entre elas a de Educação, a parlamentar sabe que a sua passagem pela comissão tem que ter a sua marca e traduzir o embasamento acadêmico da sua formação.

Com o alerta que foi dado pelo nosso editorial de ontem ao traduzir uma manifestação de desconforto crescente entre cabeças pensantes do trade turístico, a deputada reafirmou ontem ao JT que sabe exatamente o papel que o parlamento tem que desenvolver neste evento. Afirmou que sabe agir democraticamente e que em hipótese nenhuma tomará partido na disputa entre CNC e CNTur então endossará ações que possam involuntariamente traduzir isso. Tanto que, logo após assumir a presidência, aceitou convite para almoçar com dirigentes da CNTur e não descarta a possibilidade de também convocar a nova confederação para apoiar este evento da comissão. Se a Confederação do Turismo for convocada, a deputada Raquel Teixeira estará fazendo um resgate histórico já que o evento nasceu por iniciativa de dirigentes históricos que hoje comandam a entidade em litígio com a CNC.

Sobre a questão do documento referencial, a deputada afirmou que procurou ser a mais plural possível, convocando todos os membros do CNT (Conselho Nacional de Turismo) para uma sessão da comissão, realizada há algumas semanas. Só que a convocação ocorreu de forma acordada, com pouquíssimo tempo e teve uma única rodada, com quatro horas de duração, para discutir uma matriz que levou dezenas de reuniões e pelo menos uma centena de horas de debate. O pior é que a convocação não partiu nem do presidente do conselho e nem da sua secretaria geral, sendo realizado diretamente aos membros afiliados, entre eles a própria CNTur.

Infelizmente, essa única reunião não seria suficiente para promover os ajustes no documento referencial produzido pelo CNT. Lembramos que com o silêncio estaremos delegando de forma aleatória uma importante missão, que é a de ser porta-vozes das reivindicações do turismo junto aos candidatos que comandarão o turismo nos próximos quatro anos. Como afirma o nosso peso pesado do turismo, Guilherme Paulus:“Não basta apenas um documento. É necessário debatermos com ele!”. Se o turismo “estivesse” na CNI, com certeza ele seria um dos debatedores do evento que reuniu os industriais e os candidatos esta semana.

Cláudio Magnavita, presidente da Abrajet (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo), membro do Conselho Nacional de Turismo e presidente da Aver Editora.

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