A viagem didática, que contribui para fortalecer o turismo pedagógico, teve captação da Associação Comercial É de Sergipe e contou com o apoio do Governo de Sergipe

Alunos da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo (Unisg), na Itália, estão em Sergipe para conhecer os ingredientes, sabores e a cultura gastronômica do estado. A viagem didática, que contribui para fortalecer o turismo pedagógico, teve captação da Associação Comercial É de Sergipe e contou com o apoio do Governo de Sergipe, por intermédio da Secretaria de Estado do Turismo (Setur). O grupo, formado por 15 jovens, está visitando cidades sergipanas desde a quarta-feira, 24, quando estiveram nos municípios de Estância e São Cristóvão, e continua até a próxima segunda-feira, 29, com visitas ao estado vizinho, Alagoas.

Fundada pelo Slow Food e situada no coração da excelência enogastronômica piemontesa, a Unisg propõe um modelo educativo único e inovador, baseado em didática interdisciplinar, experiências, vivências e viagens didáticas na Itália e no mundo. Contextualizando, a expressão Slow Food veio, justamente, em oposição ao conceito de fast food. Trata-se, então, da busca por uma gastronomia que começa com a escolha dos alimentos e a forma de produção, o respeito pelo meio ambiente e os produtores artesanais, até chegar à mesa, onde a convivência e a celebração são fundamentais.

De acordo com o coordenador da viagem didática ao Brasil, Sanderson Bschorner, nas viagens, os estudantes entram em contato com produtores, cozinheiros e comunidade dos alimentos para compreender a cultura gastronômica de cada país. “Sergipe, por exemplo, é um estado maravilhoso. É pouco conhecido, apesar do potencial de turismo estupendo, espetacular. Sergipe ainda tem muita coisa tradicional. É um potencial espetacular de gastronomia e turismo a desenvolver. E é isso que a gente veio buscar”, explica Sanderson.

O secretário de Estado do Turismo, Marcos Franco, comenta que essa viagem didática a Sergipe com foco na gastronomia fomenta o turismo pedagógico no estado, uma vertente do setor que pode ser cada vez mais explorada tanto por brasileiros quanto por estrangeiros. “Quando se fala em gastronomia, temos muito a mostrar aos turistas que vêm a Sergipe. Não se trata apenas de oferecer pratos deliciosos à base de ingredientes típicos, como o caranguejo ou a mangaba, mas é também a oportunidade de apresentar nossos saberes e fazeres, nossa cultura e a história do nosso povo. Desse modo, mostramos como Sergipe é rico e diverso, e que é possível trazer mais turistas com atrativos que vão muito além das belezas naturais”, avalia.

Visitas

No dia 24, o grupo visitou a cidade de Estância, no litoral sul de Sergipe, para conhecer uma comunidade de marisqueiras. Ali, os jovens de 20 a 23 anos foram apresentados à pesca do caranguejo aratu e à catação do sururu em áreas de mangue, uma experiência nova e inusitada para eles. Na cidade, os estudantes experimentaram delícias à base de frutos do mar e aprenderam o modo de preparo dos alimentos feitos pelas mulheres marisqueiras. Eles se encantaram pela simplicidade das receitas e pelo sabor intenso das iguarias.

Na passagem por São Cristóvão, à tarde, o grupo conheceu o processo de produção da famosa queijadinha, doce centenário da época da escravidão feito pelas mãos das mulheres que compõem a família de Dona Marieta Santos, proprietária da Casa da Queijada. Na antiga cozinha da doceira, a receita foi ensinada passo a passo por Marta Santos, filha de Dona Marieta. Ela também explanou sobre a história de superação da família e como a produção de queijadas foi iniciada em São Cristóvão.

Sentindo-se feliz, Dona Marieta, hoje com 79 anos, destacou o orgulho por ver a queijadinha ser reconhecida por pessoas de todo o mundo. “Quando me disseram que eles vinham, foi a maior alegria, a maior felicidade”, celebra.

Boas impressões

Pela primeira vez no Brasil, a estudante italiana Melode Gai disse estar emocionada por conhecer ingredientes completamente diferentes do que está acostumada. “É uma experiência completamente diferente. Os ingredientes são novos, não têm na Itália. Nós experimentamos frutas e conhecemos novas técnicas de elaboração dos pratos. Vimos como é importante manter a cultura brasileira, a exemplo do uso da tapioca, da mandioca. Utilizamos o peixe na Itália, mas não cozinhamos desse modo, e é tão simples e fica tão bom. Mas o que mais me impactou foram as pessoas. Está sendo fantástico encontrar pessoas de vida muito simples que, mesmo com dificuldades, encontram-se felizes, abertas a receber as pessoas”, ressaltou Melode, com a ajuda de Sanderson como intérprete.

Para o italiano Giorgio Scandali, também estreante em terras brasileiras, tem sido muito bom descobrir a cultura e as histórias da gastronomia em Sergipe, o que ele considera uma grande oportunidade promovida pela Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo. “Eu gostei muito de tudo o que vi, tanto da qualidade do gosto, quanto da história. É importante continuar mantendo as tradições, sobretudo aquelas que contam histórias tão bonitas e profundas”, opinou Giorgio. Inclusive, ele disse que gostou muito da queijadinha e elogiou a simplicidade da receita que culmina em um doce tão saboroso.

Mais visitas

Nesta quinta-feira, 25, o grupo foi para Canindé do São Francisco, no alto sertão sergipano, para um passeio de barco no Cânion de Xingó, no Rio São Francisco, importante para a irrigação de propriedades rurais das regiões vizinhas. À tarde, os estudantes foram conhecer a Agrofloresta Umbuzeiro, que fica dentro  do bioma Caatinga.

Na sexta-feira, 26, a parada é o Sítio Frutos do Sertão, ainda em Canindé. Trata-se de um propriedade familiar, onde são cultivadas acerola, cana-de-açúcar, banana e mandioca. Ali, é produzido melado de cana artesanal, chips de mandioca, vinagre de acerola, licor cremoso de frutas e massa de tapioca. Em seguida, é a vez de conhecer a Queijaria Fazenda Nova, em Nossa Senhora da Glória. É a oportunidade de observar o processo tradicional de fabricação da ‘manteiga de garrafa’. A visita também revela a rica tradição dos queijos regionais, incluindo o coalho e o requeijão. A última parada desse dia será na Aldeia Indígena Kariri Xocó, na cidade vizinha de Porto do Colégio (AL). A comunidade possui uma rica história cultural e muitas tradições que os estudantes vão conhecer.

Já no sábado, 27, será a vez de visitar a Associação Aroeira, na cidade alagoana de Piaçabuçu. Trata-se de uma comunidade Slow Food de agroextrativismo sustentável, que une produtores dos dois estados. Os estudantes também visitarão a produção de pimenta rosa e vão conhecer diversas frutas e plantas da biodiversidade local.

O último dia de atividades será na segunda-feira, 29, quando o grupo visitará a Associação Quilombola no Povoado Mussuca, em Laranjeiras. O Grupo de Mulheres Produtoras Quilombolas (Grumaq) da Associação participou da Semana da Ação Verde 2023 com o projeto ‘Cozinha de Vó’, uma das cinco iniciativas selecionadas no Brasil. A campanha tem como objetivo fomentar formas sustentáveis, colaborativas, equitativas e criativas de estar no mundo.