Piva comprou a Itapemirim em 2016. Ele conta que a empresa estava quase falida e tinha um faturamento de R$ 70 milhões por ano

O empresário Sidnei Piva, dono do grupo Itapemirim é do tipo de pessoa que passaria despercebida no meio de uma multidão. Magro e com estatura mediana, ele tem a fala mansa e o sotaque carregado, típico do interior do Paraná.

Mas bastam alguns minutos de conversa para que esse paranaense, de 55 anos, natural da cidade de Pérola, chame a atenção pela empolgação com que fala sobre seus projetos, negócios e empresas.

Piva comprou a Itapemirim em 2016. Ele conta que a empresa estava quase falida e tinha um faturamento de R$ 70 milhões por ano. Em 2019, diz o empresário, a companhia de ônibus faturou R$ 700 milhões e ele projeta um resultado próximo de R$ 2 bilhões em 2021.

"Mesmo com a pandemia, agimos rápido e vamos faturar R$ 500 milhões em 2020", afirma.

Agora, ela prepara a companhia para lançar uma companhia aérea. Pelo cronograma, as operações terão início no ano que vem. A previsão é que as primeiras 10 aeronaves Airbus 320 sejam entregues em novembro e o primeiro voo comercial decole em março.

Na sexta-feira (9), a Itapemirim abriu um processo seletivo para a contratação de 600 funcionários, entre pilotos, co-pilotos, comissários e pessoal responsável pelo check-in e despacho de bagagens.

Atualmente, o grupo sob seu comando reúne 11 empresas do ramo de transporte, entre rodoviário, ferroviário e metroviário.

PERGUNTA - A Itapemirim está em recuperação judicial. Isso pode atrapalhar os planos da companhia aérea?
SIDNEY PIVA - Não. É preciso deixar claro que a companhia aérea será outra empresa, que não está ligada ao processo de recuperação. Sobre a viação, nós nem chamamos mais de recuperação. Chamo de plano de reestruturação. A RJ [recuperação judicial] está 100% em dia. E temos o endividamento muito baixo. A empresa está saindo da pandemia bem mais forte do que entrou.

P - Mas teve uma queda na receita, certo?
SP - Sim. Mas tivemos governança logo no começo. Fizemos acordos de demissão com 600 pessoas em fevereiro e mantivemos 2.400 funcionários. Desses, colocamos uma grande quantidade em férias. Também criamos um programa para levar de graça medicamentos para o tratamento da Covid-19. Com isso, conseguimos fazer o transporte de médicos e enfermeiros, que era pago. Por isso a empresa conseguiu manter toda a malha em funcionamento e tivemos uma grande rentabilidade nisso. Cumprimos com o lado social e também conseguimos fazer com que a empresa não parasse por completo.

P - É viável lançar uma companhia aérea em meio a uma das maiores crises que o setor tem passado?
SP - Encaro como a melhor oportunidade. A Itapemirim hoje, pela estrutura terrestre, já é a maior companhia aérea do Brasil. Já temos toda estrutura logística de terra. Temos 63 garagens espalhadas pelo Brasil. E praticamente todas estão ao lado de aeroportos. A base mais distante de um aeroporto fica a 7km. Então, temos a integração logística para o aéreo como nenhuma outra companhia. Isso diminui muito o custo da empresa. Além disso, contamos com 2 mil agências de vendas de passagem, com todo o sistema integrado. Temos um poder forte de venda.

P - Como a companhia aérea pretende operar?
SP - A Viação Itapemirim cobre 19 estados do Brasil, em malha rodoviária. Nós vamos estender todo atendimento. Vai ser um molde diferente de trabalhar, mas eu não quero contar ainda para as outras empresas não copiarem. Além disso, vamos atuar com o melhor equipamento, que é o Airbus 320. Recebemos dez aviões em novembro. Cada aeronave comporta 160 pessoas, mas pedimos uma disposição para apenas 110 passageiros. As poltronas serão maiores e com mais espaço entre elas.
Nós também já temos todo o processo de logística de transporte de mercadoria e isso vai ser unificado com aérea e terrestre em 2.700 cidades do Brasil. O projeto inicial prevê 16 aeroportos, mas ainda estamos definindo quais. Um deles será em São Paulo, evidentemente.

P - Qual o impacto das mudanças apresentadas no programa Voe Simples, com medidas de desregulamentação da aviação para reduzir custos de companhias de pequeno porte que operam no interior do país?
SP - Gigantesco. Com as mudanças apresentadas pelo governo, temos a possibilidade de pensar diferente. Temos também possibilidade de ter nosso próprio aeroporto, sozinhos. É inadmissível ter apenas três companhias aéreas no Brasil e monopólio dos aeroportos.

P - Querem ter aeroportos?
SP - Vamos participar de todas as concessões de aeroportos do país. Estamos aguardando os editais. Esse projeto já estava nos nossos planos, mas foi adiado pela pandemia. Nosso projeto é criar o maior programa de mobilidade de pessoas do Brasil. Vai do metrô ao avião. É um programa gigantesco. A companhia aérea já nasce com a estrutura das maiores do mundo.

P - Vocês anunciaram em Dubai um aporte de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) de um dos fundos árabes soberanos. O que aconteceu?
SP - O dinheiro ainda não chegou, mas as garantias já chegaram. Temos essa captação de US$ 500 milhões efetivada com o fundo árabe. Os papéis estão assinados e esse dinheiro chega assim que conseguirmos todos os certificados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Estamos na fase três de uma certificação de cinco. Deu uma atrasada por conta da pandemia, mas devemos concluir nos próximos 45 dias. Já fui três vezes para os Emirados Árabes Unidos.
Vou mais uma vez no final do ano para trazer o dinheiro. E só depois que o dinheiro entrar na conta é que eu posso dizer o nome do fundo.

P - E como colocar a empresa em pé sem esse aporte?
SP - Já fizemos um aporte de R$ 150 milhões que vieram de investimento próprio e pequenos e médios investidores brasileiros. Além disso, fundos dos Estados Unidos também entraram em contato. Se eu for pegar tudo o que está sendo oferecido, não tenho onde por ainda.
Temos grandes projetos. Vamos participar de uma licitação do metrô de São Paulo, que vai prever um investimento de R$ 3 bilhões. Então, os fundos vão investindo conforme a oportunidades forem se concretizando. Também vamos lançar um banco digital no final de novembro. A ideia é integrar todo o consumo. Vamos financiar da passagem até a casa própria. Também teremos seguro, cartão de crédito, débito. Entre nossos planos, estamos em fase de acabamento de um ônibus elétrico no Brasil. Tecnologia nossa, própria.