Na última segunda-feira, ao menos 200 pessoas compareceram ao pátio de São Cristóvão para retirar seus carros ou motos, o que gerou aglomeração do lado de fora e de dentro

A medida da prefeitura do Rio de Janeiro de proibir estacionamento na orla da praia aos finais de semana, como tentativa de conter o avanço da covid-19, gerou um novo problema: os cariocas se aglomeram no pátio da prefeitura para buscar os veículos guinchados.

Na última segunda-feira, ao menos 200 pessoas compareceram ao pátio de São Cristóvão para retirar seus carros ou motos, o que gerou aglomeração do lado de fora e de dentro. Além disso, relatos apontam que alguns funcionários utilizavam máscaras de forma errada, assim como os munícipes no local.

"Ridículo. Os caras proíbem estacionar na praia para evitar aglomeração na praia e aglomeram todo mundo que foi rebocado em sala fechada", disse o personal trainer Caio Romeiro, 33, que teve sua moto guinchada após estacionar na praia do Leme no domingo –ele diz que havia esquecido da proibição, que entrou em vigor no fim de semana do dia 12 de dezembro.

Eram duas salas, sendo a principal e a de espera. "Estava tudo completamente lotado e aglomerado de gente, do pessoal rebocado no fim de semana, a maioria na praia", disse Caio.

Ele enviou vídeos à reportagem que corroboram as falas. "Os caras todos atendendo sem máscara, com a máscara no queixo, gritando dentro da sala, um show de horrores", continuou o personal trainer.

A Coordenadoria de Fiscalização de Estacionamentos e Reboques, vinculada à Secretaria Municipal de Ordem Pública, vai apurar as denúncias. O órgão disse que desde o início da pandemia adotou uma série de medidas para preservar usuários e funcionários em seus dois depósitos.

Entre elas está o distanciamento entre cadeiras nos postos de atendimento, demarcações no chão para filas nos caixas, oferta de álcool em gel e o controle de entrada por senhas. Há ainda a limitação de acesso ao posto apenas ao proprietário do veículo a fim de evitar contágio.

Além disso, o órgão apontou que os depósitos funcionam diariamente, inclusive aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 17h, permitindo a usuários opções mais flexíveis de horários a fim de evitar aglomerações.

Mesmo assim, as medidas não impediram a alta concentração de pessoas na última segunda-feira (21). Nos dois fins de semana desde a proibição de estacionamento na orla, foram removidos 1.047 veículos por desrespeito à medida que visa combater a pandemia, segundo a coordenadoria.

No último fim de semana, a prefeitura apontou que rebocou 539 veículos e aplicou 690 multas de trânsito, sendo 480 apenas no domingo, todas na orla das zonas Sul e Oeste da cidade, a maioria por estacionamento irregular em local proibido.

A Secretaria Municipal de Ordem Pública removeu, entre as 6h de sábado (19) e 16h de domingo (20), 224 veículos na zona sul e 315 na zona oeste da cidade. A operação contou com 34 reboques. A multa para este tipo de estacionamento irregular, pelo Código de Trânsito, é de R$ 195,23, além das tarifas de reboque.

A Guarda Municipal Rio diz realizar diariamente ações de patrulhamento, ordenamento urbano e de trânsito, além da fiscalização sanitária em toda a cidade, com abordagens para orientar a população sobre as restrições da atual fase de flexibilização, fiscalizam as infrações sanitárias, como a falta do uso de máscaras de proteção facial.

Mesmo assim, todos os dias é possível ver diversas pessoas sem máscaras pelas orlas das praias do Rio de Janeiro, assim como no espaço de areia, que não foi proibido de circulação pela prefeitura.

A Guarda Municipal aponta ter registrado 10.019 infrações sanitárias, desde o dia 5 de junho, durante as ações de fiscalização voltadas ao enfrentamento da pandemia da covid-19.

Deste total, 8.256 notificações (82,40%) foram pela falta do uso de máscara e 618 por aglomeração em estabelecimentos comerciais, incluindo filas e em casos de aglomerações em via pública.

Enquanto isso, o Rio de Janeiro vem sendo um dos locais mais afetados pela pandemia. Segundo dados da secretaria de saúde desta segunda-feira (21), o estado tinha 407.575 casos confirmados e 24.479 óbitos por Covid-19. Há ainda 340 óbitos em investigação. Apenas na capital, foram 14.296 mortes.

No fim de novembro e começo de dezembro, a cidade do Rio já enfrentava situação preocupante. A fila para uma vaga nas UTIs vinha crescendo e chegou a 491 pessoas na rede pública no dia 8, sendo que 251 delas precisavam de terapia intensiva. Um mês antes, esses números eram de 76 e 30, respectivamente.

Na ocasião, o estado já vivia colapso na saúde, agravado pela recorrente falta de pagamento de profissionais. A ocupação de UTIs estava em torno de 91% na rede pública da capital (os hospitais municipais não tinham nenhuma vaga) e de 76% na rede estadual.