Com a pandemia de coronavírus, o voto por correspondência foi a escolha de mais de 65 milhões de americanos para participar das eleições neste ano

Com a pandemia de coronavírus, o voto por correspondência foi a escolha de mais de 65 milhões de americanos para participar das eleições neste ano, segundo o site US Elections Project.

Cerca de 40% dos quase 159 milhões de pessoas que votaram -um recorde de participação- optaram por depositar suas cédulas pelo correio.

O sistema permite votar sem ficar em filas e aglomerações, o que justifica sua alta procura em meio à pandemia que já matou mais de 234 mil americanos. Só nesta quarta (4), o país registrou mais de 100 mil novos casos da doença.

A alta participação dos eleitores pelo correio está levando a um atraso na divulgação dos resultados. Muitos dos votos que ainda faltam ser contabilizados foram enviados dessa forma, e boa parte deles é favorável ao candidato democrata, Joe Biden.

Por isso, a diferença entre os dois candidatos caiu em alguns estados quando os votos pelo correio começaram a chegar, como aconteceu na Pensilvânia. A campanha de Trump, então, entrou com ações para tentar suspender a apuração dos votos no estado.

A campanha também entrou com recursos para pedir recontagem em Wisconsin e fez outra ação para questionar a contagem de votos que chegaram pelo correio na Geórgia depois de terça (3), dia da eleição.

Trump também tentou uma ação em Michigan para suspender a contagem dos votos. As ações no estado e na Geórgia foram rejeitadas nesta quinta (5).

As acusações de fraude nos votos pelo correio têm fundamento? A resposta simples é não. De acordo com um estudo da Heritage Foundation, um think tank conservador, desde 1988 cerca de 250 milhões de cédulas foram enviadas dessa forma, e destas apenas 208 eram fraudulentas e resultaram em condenações.

Entretanto, a eleição presidencial de 2000 entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore acabou decidida na Suprema Corte devido à denúncia de fraude em votos na Flórida, parte deles em cédulas por correspondência.

De acordo com a campanha de Gore, mesários em um condado majoritariamente republicano permitiram que membros desse partido completassem formulários de voto por correio incompletos, o que não ocorreu em outros condados.

Os democratas queriam que todos os votos por correspondência da Flórida fossem anulados, o que daria a vitória da eleição a Gore. A Suprema Corte negou a recontagem de votos, e Bush foi nomeado presidente.

Muito mais comum são votos pelo correio rejeitados por preenchimento incorreto, assinatura inválida ou por não terem sido entregues a tempo.

De acordo com o site FiveThirtyEight, votos por correspondência de eleitores negros na Carolina do Norte estão sendo rejeitados quatro vezes mais do que os de eleitores brancos.

Para pesquisadores da Universidade da Califórnia, essa discrepância se explica pelo fato de que muitos eleitores negros estão votando a distância pela primeira vez, e pessoas que nunca votaram assim antes tendem a cometer mais erros. Além disso, nem sempre o eleitor é notificado a tempo de corrigir a cédula.

Mas como funciona o voto a distância em uma das maiores democracias do mundo?

Nos EUA, todo o processo eleitoral é organizado pelos estados, e isso inclui o voto por correspondência. Cada um decide como vai organizar a votação por correio, e não há lei federal sobre a modalidade.

Assim, o governo só tem responsabilidade sobre os votos de membros das Forças Armadas no exterior. A Casa Branca é, porém, responsável pela logística, por meio do serviço postal, uma empresa estatal.

A apuração acontece em duas etapas. Primeiro, a cédula é autenticada. Um órgão estadual verifica se a assinatura é compatível com o documento do eleitor e, caso sim, a libera para contagem.

Essa etapa pode acontecer imediatamente após o recebimento da cédula ou a partir de uma data específica. Alguns estados só permitem que a cédula seja preparada no dia da eleição, o que atrasa a divulgação do resultado.

Em seguida, o voto é contado. Assim como na primeira etapa, alguns estados realizam a contagem imediatamente, alguns dias antes da eleição, outros somente no dia do pleito ou ainda depois que as urnas fecham.

Em todos os estados, os resultados da votação postal só são anunciados junto com a apuração dos votos presenciais. Na Califórnia, em 2016, a contagem completa só terminou um mês depois da eleição.